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“Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na ideia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto mais embaixo, bem diverso do que em primeiro se pensou (...) o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia...” (ROSA, Guimarães)

 

Desde o primeiro espetáculo - “Máquina Pentesiléia” - a Cia. Teatral Casa de Marias investiga a estética da cultura pernambucana, trazendo para o palco o repente, o cordel e a terra vermelha.

No processo artístico seguinte - “Do outro lado do Trilho” - resolvemos ampliar a pesquisa sobre a cultura de Pernambuco, através de uma pesquisa de campo em São Miguel Paulista, bairro periférico da zona leste da cidade de São Paulo. Esse bairro, desde meados dos anos de 1960 até hoje, é um dos maiores focos da imigração nordestina.

Durante essa pesquisa, tivemos contato com várias mulheres que deixaram as suas cidades, ainda na juventude, em busca de um “futuro melhor”. Na maioria dos casos, o trabalho realizado por essas mulheres em sua terra natal era manual, como: escultura em barro, tear, costura, lavoura, etc. Aqui em São Paulo, uma grande metrópole em constante ascensão, o trabalho realizado por essas mesmas mulheres é outro. Ainda usam as mãos, mas agora mecanicamente, em grandes produções em série.

Experimentando a travessia inversa dessas mulheres nordestinas, seguimos rumo a algumas cidades agrestes de Pernambuco – outras periferias – e vivenciamos de perto a execução desses trabalhos manuais tão ricos, mas que também lá, se extinguem a cada dia. Esse é um, dos vários motivos da saída dessas mulheres, deixando pra trás suas casas e famílias.

 

“ENCONTROS DE PERIFERIAS”

Apesar dessa crescente desvalorização do trabalho manual/ criativo em detrimento das grandes produções, percebemos nas pesquisas que realizamos, tanto nas cidades agrestes de Pernambuco quanto no bairro de São Miguel Paulista em São Paulo, que existe uma espécie de “resistência” dos imigrantes com que conversamos em manter sua cultura. Isso se mostra através de suas histórias contadas, moradias e até comércios, como as Casas do Norte, por exemplo, etc.         

É certo que ainda persiste o pensamento de muitos nordestinos de que São Paulo é o “centro” do país, mas muitos, quando chegam aqui, encontram apenas a periferia como lugar para morar, devido a sua realidade financeira. E nesse novo espaço, como forma de sobrevivência, “semeiam” sua cultura, gerando muitas outras.

 

 

" Projeto Travessia"

contemplado pelo Prêmio Myriam Muniz Montagem 2014

“Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na ideia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto mais embaixo, bem diverso do que em primeiro se pensou (...) o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia...(ROSA, Guimarães)

 

 

Artistas- Pesquisadoras:

 

Célia Ramos e Silvaní Moreno

 

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